Imagine deixar a porta da sua casa aberta sem perceber. Agora, pense nesse mesmo descuido, mas em escala digital. Configurações mal ajustadas em sistemas, aplicativos ou redes funcionam como portas escancaradas para cibercriminosos. O pior? Muitas vezes, essas falhas passam despercebidas até que seja tarde demais.
O cenário atual é preocupante. De acordo com o Open Worldwide Application Security Project (OWASP), as más configurações estão entre as cinco principais ameaças à segurança digital, subindo uma posição em relação ao ranking anterior. A organização ainda apontou que 90% dos aplicativos testados apresentavam falhas desse tipo. Não à toa, a Microsoft revelou que 80% dos ataques de ransomware têm como ponto de partida configurações inadequadas em softwares ou dispositivos.
Tudo fica ainda mais crítico com a popularização dos serviços em nuvem. A migração para ambientes cloud trouxe agilidade e escalabilidade, mas também ampliou os riscos. Um exemplo recente é a medida tomada pela Agência de Cibersegurança e Segurança de Infraestrutura dos EUA (CISA), que exigiu que agências federais revisassem e ajustassem suas configurações no Office 365. A ação foi um alerta: a segurança não pode ser negligenciada.
Mas por que tantas empresas continuam nessa pegadinha? A resposta está nos sistemas modernos, uma verdadeira salada de frutas tecnológica. Ambientes mistos, que combinam infraestrutura local e cloud, são cada vez mais comuns. Porém, essa mistura toda deixa tudo meio invisível. Muitas empresas usam regras antigas, que ninguém quase nunca revisa, abrindo espaço para problemas.
Pior ainda, ajustes não autorizados ou feitos às pressas podem sumir na multidão sem vigilância contínua. Em sistemas antigos ou apps feitos sob medida, a dificuldade aumenta. Frequentemente, esses sistemas escondem configurações complicadas de checar, o que amplifica o perigo de problemas.
Os dados são maiores que apenas dinheiro. Empresas que não protegem bem os dados dos clientes podem levar multas pesadas por quebrar regras como GDPR ou HIPAA. E tem a questão da reputação também. Confiança é algo sem valor físico, mas muito importante para os negócios. Um erro só pode destruir a imagem de uma companhia por muito tempo, fazendo clientes irem embora e fechando portas para chances novas.
A boa notícia é que há como se proteger. A implementação de políticas de segurança robustas e a definição clara de controles de acesso são passos fundamentais. Ferramentas automatizadas, como soluções baseadas em inteligência artificial, podem ajudar a identificar e corrigir más configurações em tempo real. E não menos importante, treinar a equipe sempre e fazer vistorias garante que tudo funcione como deve.
No fim das contas, segurança digital não é só tecnologia, é respeito à confiança do cliente. Empresas que se destacam nessa área não apenas evitam crises, mas também lideram o mercado. Afinal, em um mundo onde os dados são o novo ouro, protegê-los não é uma opção – é uma obrigação.
*Por Dennis Brach, country manager da WatchGuard Brasil.