Enquanto a tecnologia avança em ritmo acelerado, muitos profissionais experientes enfrentam barreiras invisíveis para se manterem ativos no mercado. Conversamos com Roberto Dranger, sócio-fundador da Átina Consulting, sobre os desafios do etarismo na área de TI — e por que a diversidade etária pode ser um trunfo estratégico para as empresas.
IT Section: O etarismo é um problema real no setor de tecnologia? Quais são os principais desafios que os profissionais seniores enfrentam ao buscar uma recolocação?
Roberto Dranger: Obviamente, para uma geração que nasceu analógica, a adaptação à tecnologia é um processo mais difícil — mas longe de ser impossível. O que falta, muitas vezes, não é capacidade, mas oportunidade e inclusão. O mercado ainda carrega uma visão enviesada de que juventude está diretamente ligada à inovação, ignorando o valor estratégico da experiência. Além disso, a tecnologia, na maioria das vezes, é empregada como ferramenta de execução, e não como base para decisões estratégicas de longo prazo — justamente onde profissionais seniores podem contribuir com mais consistência, visão crítica e maturidade. O desafio está em quebrar esse preconceito e abrir espaço para uma convivência mais rica entre gerações dentro das empresas.
IT Section: Como a experiência pode ser um diferencial competitivo? Muitas empresas buscam inovação e dinamismo, mas de que forma a bagagem profissional pode ser um fator estratégico para as organizações?
Roberto Dranger: Inovação e dinamismo são os drivers do crescimento, mas a experiência e a gestão são fundamentais para organizar esse processo e torná-lo sustentável. A bagagem profissional oferece algo que não se aprende em cursos rápidos: a capacidade de tomar decisões com base em contextos reais, lidar com incertezas e antecipar riscos. Profissionais experientes ajudam a equilibrar o entusiasmo das novas ideias com a disciplina necessária para executá-las com eficiência. Em um cenário de crescimento exponencial, são essas vozes que ajudam a manter o foco, evitar armadilhas comuns e garantir que o caminho trilhado seja consistente, não apenas veloz.
IT Section: Existe um mito de que profissionais mais velhos não se adaptam às novas tecnologias? Como combater essa percepção e quais habilidades são mais valorizadas nesse perfil de colaborador?
Roberto Dranger: Sim, existe esse preconceito natural, muitas vezes reforçado por estereótipos ultrapassados. No entanto, a responsabilidade pela mudança dessa percepção é compartilhada. Os profissionais seniores precisam fazer a sua parte — se manter atualizados, explorar novas ferramentas tecnológicas e mostrar disposição para aprender constantemente. Ao mesmo tempo, as empresas precisam enxergar o valor da combinação entre conhecimento técnico e maturidade profissional. Habilidades como pensamento crítico, resiliência, liderança colaborativa e visão sistêmica são altamente valorizadas e, muitas vezes, mais presentes nesse perfil. Combater o mito exige ações concretas: oferecer oportunidades de desenvolvimento, promover ambientes de troca entre gerações e criar uma cultura que valorize a diversidade de trajetórias.
IT Section: As empresas de TI estão preparadas para times intergeracionais? O que ainda precisa mudar para que a diversidade etária seja de fato valorizada?
Roberto Dranger: Cada empresa tem seu próprio ciclo de amadurecimento, e os empreendedores precisam reconhecer suas “dores” e saber quando buscar ajuda. Construir times intergeracionais exige mais do que boa vontade — é necessário intencionalidade. Ainda há um caminho importante a ser percorrido no que diz respeito à cultura organizacional, à liderança inclusiva e à criação de ambientes que valorizem diferentes formas de pensar e trabalhar. A diversidade etária é um ativo estratégico, pois permite combinar velocidade com profundidade, inovação com experiência. Para que isso aconteça de fato, é preciso derrubar preconceitos, promover a escuta ativa entre gerações e estabelecer políticas que incentivem essa convivência enriquecedora.
IT Section: O que as empresas de TI perdem ao descartar talentos seniores? Há estudos ou exemplos concretos que mostram os impactos negativos do etarismo nos negócios?
Roberto Dranger: Acredito que o próprio índice altíssimo de fracasso de startups e novos empreendimentos demonstra a necessidade de experiência na construção e gestão de empresas sólidas.
IT Section: Quais são as melhores estratégias para um profissional 50+ se destacar no mercado de tecnologia? Além da atualização técnica, que outras ações podem aumentar as chances de recolocação?
Roberto Dranger: Acredito que, além da atualização técnica constante, é necessária uma boa dose de adaptabilidade às novas realidades. Estar aberto a novas formas de trabalho, como metodologias ágeis, cultura de inovação e ambientes colaborativos, faz toda a diferença. A inteligência emocional também é um grande diferencial — saber ouvir, compartilhar conhecimento e construir pontes entre gerações pode transformar um profissional sênior em um verdadeiro catalisador dentro da equipe. Por fim, cultivar uma postura de aprendizado contínuo, participar de comunidades de tecnologia e manter um bom networking são atitudes que aumentam exponencialmente as chances de recolocação e relevância no mercado.