A cibersegurança transcende fronteiras em todos os seus aspectos. Os principais grupos criminosos têm afiliados por todo o mundo, não se limitando a barreiras geográficas, e seus alvos também dificilmente estão em um único país ou continente. Ao mesmo tempo, e também considerando esses fatores, o esforço para preservar a integridade digital opera numa escala igualmente global. A interconectividade do mundo 100% digitalizado em que vivemos tornou todo tipo de infraestrutura, seja ela crítica ou comercial, um potencial vetor de ataque, e que exige uma resposta à altura.
Ao longo dos últimos anos, tivemos iniciativas importantes na tentativa de construir pontes e estreitar relações diplomáticas em prol da segurança digital. Um dos principais marcos foi há dez anos, no Acordo de Paris de 2015. Embora o foco principal do encontro tenha sido o clima, incluiu discussões iniciais sobre cibersegurança, na época, para proteger sistemas relacionados ao monitoramento ambiental. Dois anos depois, a Microsoft propôs ao mundo as “Convenções Digitais de Genebra”, uma versão aplicável ao ambiente online do documento formulado após a Segunda Guerra Mundial, e que serve até hoje como uma espécie de “manual de regras humanitárias” das guerras.
Mais recentemente, o Fórum Econômico Mundial, em seu relatório “Global Cybersecurity Outlook 2025”, destacou a necessidade de colaboração entre setores público e privado para enfrentar a crescente complexidade do cenário cibernético. Além disso, temos acompanhado regulamentações como a LGPD no Brasil, e a GDPR na União Europeia. A importância de todas essas iniciativas citadas não está somente no seu impacto direto na redução de ameaças cibernéticas (que é fundamental), mas também na mensagem transmitida: a necessidade de cooperação.
Sem acordos promovidos pelas principais potências globais em cibersegurança, e que também contemplem as nações menos favorecidas, os esforços individuais de países ou empresas falham em enfrentar adequadamente a escala e a sofisticação dos ataques modernos. Uma coalizão internacional promove não só maior compartilhamento de informações e estratégias, como também uma capacidade ampliada de resposta coordenada. Mais do que isso, tais acordos têm o potencial de estabelecer normas que desincentivem práticas como o uso de hackers patrocinados para atacar infraestruturas estrangeiras – em casos cada vez mais comuns e que, dependendo da motivação e origem, também recebem o nome de “hacktivismo”.
O próximo passo deve ser ainda mais ousado. É necessário um comprometimento para a criação de um tratado universal que inclua, por exemplo, cláusulas de transparência, sanções para descumprimentos e incentivos para cooperação. Além disso, há uma urgência em incluir países em desenvolvimento, que frequentemente carecem de recursos para proteger suas próprias redes, tornando-se alvos vulneráveis – se mesmo as nações mais avançadas na maturidade cibernética ainda são frequentemente atacadas, para os demais países o impacto é ainda mais catastrófico.
Assim, a diplomacia da cibersegurança não é apenas uma questão de prevenção, mas de visão. Ela representa o reconhecimento de que o futuro das infraestruturas críticas, da economia global e da privacidade individual depende diretamente da capacidade de colaboração e confiança mútua entre os principais atores. Esse é um esforço que transcende interesses individuais e se alinha ao propósito maior de garantir um amanhã mais seguro e conectado.
*Por Allan Costa, Co-CEO da ISH Tecnologia.