Participar do SAP Sapphire 2025 foi mais do que acompanhar novidades: foi testemunhar a consolidação de uma transformação profunda. A SAP deixou claro que Clean Core, inteligência artificial e automação não são mais diferenciais, mas fundamentos da nova gestão empresarial. Essa virada muda, também, o papel das consultorias: deixa de ser técnico-operacional e passa a ser estratégico-transformacional.
Um conceito central nesse novo cenário é o de Clean Core. Trata-se de uma abordagem que propõe manter o núcleo do sistema SAP o mais limpo e padronizado possível, sem customizações pesadas, para permitir atualizações mais rápidas, integrações mais simples e melhor aproveitamento das inovações que a SAP oferece continuamente. Essa filosofia exige que as empresas repensem seus processos, adotem extensões desacopladas e busquem eficiência sem comprometer a escalabilidade. Para os negócios, o Clean Core significa mais agilidade na incorporação de novas funcionalidades, redução de custos com manutenção e maior capacidade de inovação com segurança.
Consultorias preparadas para esse novo momento precisam aliar conhecimento profundo do legado SAP com domínio de novas tecnologias. O desafio não é apenas converter ou atualizar sistemas, mas orquestrar transições complexas respeitando a estrutura de dados, os processos validados e as particularidades de cada cliente. Isso requer leitura de contexto, inteligência de negócio e, sobretudo, capacidade de antecipar as próximas demandas do mercado.
Um dos pontos mais relevantes do evento foi o novo papel da inteligência artificial dentro do ecossistema SAP. Ela não aparece mais como um recurso adicional, mas como parte central da arquitetura. Aplicada à tomada de decisão, à governança de dados e à automação de processos, a IA redefine a forma como o ERP opera e entrega valor. Para as consultorias, isso representa uma ruptura: a expertise técnica tradicional já não basta. É necessário desenvolver produtos e serviços capazes de operar com IA nativa, de forma transparente, segura e orientada à performance. O consultor que antes pensava em customizações agora precisa pensar em modelos de dados, fluxos automatizados e arquitetura limpa — um novo mindset que une tecnologia, usabilidade e resultados tangíveis.
O modelo tradicional de implementação pontual está dando lugar a um ciclo contínuo de evolução. Com atualizações mais frequentes, integrações mais rápidas e um ambiente cada vez mais dinâmico, a atuação consultiva precisa acompanhar esse ritmo sem perder de vista a segurança e a estabilidade que o SAP exige. Nesse novo cenário, as consultorias que prosperarem serão aquelas que pensam o ERP como uma plataforma viva, em constante transformação. E mais do que entregar projetos, serão aquelas que constroem parcerias de longo prazo, ajudando as empresas a extrair o máximo valor de cada atualização, com velocidade e responsabilidade.
A SAP está abrindo espaço para que parceiros com visão, tecnologia e consistência assumam o protagonismo nessa nova fase. Mas não há espaço para fórmulas antigas. O futuro dos ERPs será moldado por quem souber unir profundidade técnica, cultura de inovação e um olhar atento às transformações do mercado. A pergunta que fica é: quem está pronto para esse novo papel?
*Por Paulo Secco, fundador e CEO da Mignow.