O lançamento do Nano Banana, recurso do Google Gemini para edição de imagens, e a provocação de Sam Altman sobre uma possível “bolha de IA” parecem assuntos distintos, mas revelam o mesmo dilema: estamos diante de um mercado com expectativas infladas ou de uma revolução digital drástica como a invenção da internet?
Durante uma conferência recente, Altman foi questionado se o mercado de inteligência artificial estaria vivendo uma bolha. Sua resposta ganhou notícias simplificadas, mas o que ele disse, na prática, foi menos polêmico: ele não acredita que a IA seja uma bolha em si, mas que os investidores estão excessivamente empolgados com uma tecnologia que tem uma base real e potencial de mudança. Ou seja, a euforia é real, mas não invalida o impacto concreto que a IA já começa a demonstrar. A comparação com outros momentos da história é inevitável, assim como a internet no fim dos anos 1990, a IA reúne fundamentos sólidos e uma valorização acelerada que pode gerar distorções de mercado antes de atingir sua maturidade.
O Nano Banana não tenta ser um modelo de imagens “generalista”, ele resolve bem uma tarefa em específico, editar fotos de forma rápida e barata. O impacto foi imediato, o mercado reagiu, e coincidentemente a Adobe viu suas ações caírem mais de 25% diante da ameaça competitiva. A lição é clara porque reforça que a sustentabilidade da IA depende menos do brilho tecnológico e mais da sua capacidade de entregar resultados práticos. Em um cenário em que investidores buscam narrativas grandiosas, a sobrevivência estará do lado das soluções tangíveis, confiáveis e custo-efetivas, como exemplificado pelo Nano Banana.
Avanços concretos existem, como é o caso da OpenAI, por exemplo, que já acumula 700 milhões de usuários semanais e US$ 12 bilhões de receita anualizada. O risco maior não é apenas financeiro, mas de confiabilidade. Em setores como saúde ou finanças, acurácia em benchmarks não basta, é preciso sistemas auditáveis, com versionamento, SLAs claros e humanos-no-circuito (termo técnico utilizado para metodologias onde a validação ou homologação passa por um humano em alguma etapa do processo). Outro desafio é ético: se o Nano Banana pode gerar ganhos de produtividade, também pode alimentar a desinformação ao manipular fotos reais com um clique, abrindo um outro campo inteiro de discussão, sobre a responsabilidade das empresas de IA nestes casos.
Na América Latina, o cenário é mais particular. Com menos capital disponível e infraestrutura limitada, a especulação é reduzida, mas aumenta a pressão para criar soluções verticais em setores como agricultura, saúde, educação e inclusão financeira. Aqui, startups têm papel central, ocupando nichos negligenciados pelas big techs e testando “riscos inteligentes”.
Para executivos, a questão não é se um modelo é o mais avançado do mercado, mas se ele resolve um problema real, com confiabilidade e retorno tangível. O Nano Banana deixa claro que a inovação relevante não precisa impactar tudo de uma só vez, basta entregar valor de forma consistente e em escala para alterar dinâmicas de mercados específicos.
Bom, se há uma bolha, ênfase no “se”, ela inevitavelmente irá estourar, e isso é parte natural do ciclo de qualquer tecnologia transformadora ou disruptiva. O que fará a diferença será a capacidade das empresas de conectarem inovação a problemas reais, construindo sistemas confiáveis e equilibrando impacto de mercado com ética. A verdadeira força da IA não está na exuberância do especulativo, mas na sua aplicação com clareza de propósito.
*Por Bruno Bitelli, cofundador e CEO da Artemis.













