A promessa das aplicações nativas em nuvem parecia perfeita: mais agilidade, escalabilidade e eficiência. No entanto, a realidade vivida por muitas empresas é bem diferente. Quando esses sistemas falham, o impacto vai muito além do simples tempo de indisponibilidade, envolvendo perdas financeiras significativas, queda na produtividade, desgaste das equipes e, em casos mais graves, prejuízos à reputação.
Uma pesquisa recente da Commvault, realizada em maio de 2025 em parceria com a Enterprise Strategy Group (ESG), revela que 42% das interrupções em aplicações modernas não podem ser resolvidas apenas com backup e exigem uma reconstrução completa. Pior ainda, o tempo médio para restaurar funcionalidades essenciais nesses casos chega a 40 dias úteis — um intervalo que, para muitos negócios, é simplesmente insustentável.
Velocidade e responsabilidade
Ao migrar para arquiteturas modernas, as empresas ganham em velocidade e flexibilidade, mas também assumem uma nova carga de responsabilidades. Cada hora gasta reconstruindo aplicações é uma hora a menos para criar novos produtos, melhorar a experiência do cliente ou investir em transformação digital.
O estudo mostra que quase metade das empresas (41%) reconhece que incidentes de reconstrução atrasam iniciativas estratégicas. O efeito é sistêmico: equipes sobrecarregadas, cronogramas adiados e perda de foco em inovação. Além disso, o desgaste humano é expressivo — 49% das organizações relataram aumento do estresse durante períodos de reconstrução, 36% registraram perda direta de receita e 35% afirmaram ter perdido clientes em decorrência das falhas.
Complexidade técnica e novos riscos
O modelo de microsserviços, base das aplicações nativas em nuvem e grande aliado dos negócios, é uma das razões por trás dessa dificuldade. Ao dividir a aplicação em diversos componentes independentes, mantidos por equipes diferentes, a recuperação torna-se um verdadeiro quebra-cabeça. Cada serviço pode ter versões, configurações e dependências próprias — e qualquer desalinhamento compromete o todo.
Outro fator crítico é o chamado configuration drift, alterações não controladas que se acumulam ao longo do tempo e dificultam a restauração para um estado estável. A pesquisa aponta que 82% das organizações enfrentam esse problema em níveis preocupantes, e 69% reconhecem que ele prejudica diretamente a resiliência digital.
O cenário se torna ainda mais complexo em ambientes multicloud. Embora 90% das empresas utilizem dois ou mais provedores de nuvem, quase todas enfrentam alta variabilidade nas ferramentas de proteção e recuperação, gerando ineficiências operacionais, necessidade de especialização em múltiplas plataformas e potenciais lacunas na estratégia de resiliência.
Automação como solução estratégica
Persistir na recuperação manual, baseada em procedimentos tradicionais, é como tentar apagar um incêndio com um balde furado. A pesquisa indica que empresas que adotam reconstruções automáticas conseguem reduzir o tempo de retomada das operações de semanas para horas — ou até minutos.
A automação não apenas acelera o processo, mas também elimina erros humanos, garante consistência entre ambientes e combate o configuration drift. Mais importante, libera as equipes de TI para se concentrarem em inovação e iniciativas de alto valor, em vez de ficarem presas ao “modo crise”.
Um alerta para líderes e tomadores de decisão
A verdadeira pergunta que executivos e gestores de TI precisam fazer não é “quanto custa implementar a automação na recuperação de aplicações?”, mas “quanto custa não fazê-lo?”. O estudo mostra que o impacto anual das reconstruções manuais, considerando apenas mão de obra especializada, pode ultrapassar US$ 210.836 — sem contar perdas de receita, fuga de clientes e danos à marca.
Em um cenário de adoção acelerada de soluções nativas em nuvem — presentes em quase metade dos novos desenvolvimentos de aplicações —, as empresas que prosperarão serão aquelas que tratarem a resiliência como parte do planejamento estratégico, e não como medida emergencial.
A nuvem trouxe novas oportunidades, mas também novos riscos. Reconhecer que a complexidade é inerente aos ambientes modernos é o primeiro passo para enfrentá-la. O segundo é agir proativamente, adotando práticas que reduzam a dependência de processos manuais e aumentem a capacidade de resposta a falhas. Testar os planos de recuperação e aperfeiçoá-los continuamente é essencial, tal como um atleta se prepara para uma competição.
No fim, não é apenas uma questão tecnológica — é uma decisão de negócios. Empresas que enxergarem a resiliência como diferencial competitivo estarão mais bem preparadas para transformar crises em oportunidades e manter o ritmo da inovação, mesmo diante dos desafios da era digital.
*Por Marcelo Rodrigues, diretor-geral da Commvault Brasil.