No mundo dos negócios, falamos sobre ativos, valuations e market share. No entanto, o ativo mais valioso e frágil de uma empresa não aparece no balanço patrimonial: a confiança. Em um mercado onde dados são fontes importantíssimas, a cibersegurança deixou de ser um dialeto técnico para se tornar a apólice de seguro da reputação corporativa. Encará-la somente como um custo é como construir um cofre de titânio e deixar a chave debaixo do tapete.
Essa noção de confiança é a base sobre a qual construí minha carreira. Em minha visão, qualquer parceria estratégica, especialmente no setor de serviços, não nasce da transação, mas do relacionamento. A lógica é implacável: ninguém fecha negócios com quem não se sente seguro. Portanto, antes mesmo de uma proposta comercial, a conexão de confiança precisa ser estabelecida, e no cenário digital, essa confiança é forjada na capacidade de proteger o que é mais crítico para o cliente. A segurança, em essência, precede a venda.
Mas como estabelecer essa confiança com C-Levels e conselhos de administração que não falam a língua da tecnologia? É aqui que reside nosso maior desafio e oportunidade: traduzir o “tecniquês”. Executivos não precisam necessariamente entender a complexidade de um algoritmo, mas precisam visualizar o risco que sua ausência representa para a receita e para a marca. Para isso, uso a metáfora do carro blindado: de que adianta investir na blindagem mais sofisticada se o motorista insiste em trafegar com os vidros abertos em zonas de risco? A tecnologia, por si só, é apenas uma parte da estrutura. Sem uma cultura de segurança e uma governança clara, com as regras de uso do veículo, o investimento se torna uma falsa sensação de proteção.
E essa sensação de segurança é um erro recorrente, sobretudo quando as empresas se perdem em soluções mirabolantes enquanto negligenciam o fundamental. A verdade é que a maioria das violações bem-sucedidas explora falhas básicas. O foco em adquirir novas tecnologias enquanto se ignora o monitoramento de acessos incomuns ou as chamadas “viagens impossíveis”, quando um mesmo usuário se conecta de dois continentes em um tempo impossível, resultado de um erro estratégico. A questão não é quantos ataques sua empresa bloqueia, mas sim a qualidade da sua inteligência para identificar quais ameaças são, de fato, relevantes e podem paralisar a operação.
Essa busca por uma inteligência mais apurada nos leva diretamente à próxima fronteira: a Inteligência Artificial. A IA surge como uma força transformadora, mas que exige governança impecável para não se tornar um risco. Adotar IA sem controles rígidos é o equivalente a uma montadora que, para atender à demanda, decide produzir carros sem faróis. É a busca pela velocidade máxima, ignorando que, sem os faróis da governança para iluminar a direção e os riscos, a empresa está somente acelerando no escuro. Contudo, quando bem governada, seu potencial é imenso, especialmente quando alimentada por dados compartilhados. Na medicina, a colaboração de dados permite que algoritmos acelerem diagnósticos com uma precisão inédita. O segredo não é trancar a informação, mas protegê-la e saber com quem se está compartilhando, pois a IA se torna mais eficaz com o uso coletivo. Implementá-la para um grupo restrito é como “jogar ping-pong consigo mesmo”; seu potencial só é atingido quando um volume maior de interações alimenta e refina o sistema.
Seja cuidando do básico ou implementando IA, a cibersegurança e a tecnologia devem ser vistas como o que realmente são: pilares estratégicos para a sobrevivência e o crescimento. Proteger sua organização não é sobre evitar um prejuízo financeiro, é sobre blindar sua marca, honrar a confiança de seus clientes e garantir sua relevância no futuro. A resiliência do seu negócio será medida não pela quantidade de ferramentas que você comprou, mas pela robustez da cultura que você cultivou.
*Por Betina Testoni, Diretora-Executiva e cofundadora da Cloud Target.













