O Brasil vive um momento decisivo para se consolidar como um dos protagonistas na criação de software em escala global. Tendências mundiais como low code, no code e inteligência artificial generativa estão transformando a forma como os aplicativos são desenvolvidos: acelerando processos, automatizando testes e até gerando requisitos e arquiteturas. Essa combinação de velocidade e inteligência representa um salto de produtividade que já começa a impactar setores como saúde, indústria e serviços, e que deve escalar significativamente nos próximos anos.
A consolidação das arquiteturas nativas em nuvem e o avanço da computação de borda impulsionarão a Indústria 4.0 e as cidades inteligentes, enquanto a cibersegurança deixa de ser um diferencial para se tornar um pilar fundamental. Até a sustentabilidade passa a ser um pré-requisito, com foco crescente em eficiência energética e responsabilidade ambiental incorporadas ao próprio código.
No entanto, essa revolução depende diretamente das pessoas. O Brasil abriga desenvolvedores criativos, resilientes e com grande capacidade de aprendizado, qualidades reconhecidas mundialmente. Bootcamps e plataformas online criaram polos de excelência, mas a escala de formação de talentos ainda está aquém da demanda crescente. As universidades, em geral, não acompanham o ritmo da inovação e barreiras como a proficiência em inglês persistem. Sem políticas consistentes e investimento significativo em educação tecnológica, corremos o risco de perder talentos para outros países e ampliar o abismo entre potencial e realidade.
Do agronegócio à indústria, da saúde ao setor financeiro, a próxima década será marcada por uma intensa demanda por soluções digitais. Agricultura de precisão, gêmeos digitais, manutenção preditiva, telemedicina, diagnósticos assistidos por IA, open banking, logística inteligente e redes elétricas inteligentes são apenas alguns exemplos de aplicações emergentes que exigirão desenvolvimento de software em uma escala sem precedentes. Para que esse ecossistema prospere, políticas públicas e incentivos de longo prazo são fundamentais. Investimentos em infraestrutura digital, incentivos fiscais simplificados para pesquisa e desenvolvimento, linhas de financiamento para startups e ambientes regulatórios estáveis são condições essenciais para atrair capital e fomentar a inovação.
Desafios significativos ainda persistem. Em muitos setores tradicionais, a aversão ao risco desacelera a adoção de novas tecnologias. Conectividade desigual, altos custos de energia, sistemas tributários e trabalhistas complexos e incertezas regulatórias comprometem a agilidade necessária ao setor. Superar esses obstáculos exige ação coordenada entre governo, empresas e academia, além de uma visão estratégica de longo prazo.
Empresas brasileiras que desejam competir em escala global precisam pensar grande desde o início. Isso significa investir em talentos, criar ambientes atrativos para reter profissionais, adotar metodologias ágeis e seguir padrões internacionais de qualidade e segurança. É estratégico focar em nichos nos quais o país já tem vantagem, como agritechs, fintechs e soluções para cidades inteligentes, além de buscar parcerias locais e internacionais e promover inovação aberta por meio de ecossistemas de startups e comunidades de desenvolvedores.
Até 2035, o maior diferencial do Brasil poderá estar em sua capacidade de combinar inovação com propósito e no talento humano criativo e resiliente que define sua força de trabalho. A complexidade social e econômica do país serve como um laboratório vivo para o desenvolvimento de soluções que podem ser exportadas para outros mercados emergentes e até para países desenvolvidos. Se investirmos de forma inteligente em educação e criarmos as condições certas para reter talentos, o Brasil não apenas terá tecnologia de ponta, mas também um portfólio único de soluções inclusivas e sustentáveis, capaz de posicionar o país como líder global em desenvolvimento de software.
*Por Raymond Kok, CEO da Mendix.













