Durante muito tempo, o discurso sobre segurança digital esteve centrado na tecnologia: firewalls, redes virtuais privadas (VPNs), criptografia, autenticação por múltiplos fatores e controles contra ameaças, tais como antivírus e soluções anti-malware. Todos esses continuam essenciais, mas não são suficientes. Hoje, os maiores riscos não estão apenas nos sistemas, e sim nas pessoas que os operam.
O avanço dos ataques cibernéticos é um reflexo direto da evolução do próprio comportamento humano no ambiente digital. Os criminosos passaram a ser manipuladores de contextos. Exploram o erro, a pressa, a distração e a confiança excessiva, encontraram brechas invisíveis não mais nos códigos, mas na conduta.
O problema é que ainda existe uma crença de que segurança é algo que se compra, quando, na verdade, é algo que se constrói. E essa construção começa pela cultura. Não adianta investir milhões em tecnologia se as pessoas que lidam com informações críticas não estão preparadas para reconhecer uma tentativa de engenharia social, questionar pedidos fora do padrão ou reportar um incidente com agilidade.
A segurança digital, hoje, é um desafio de liderança. Requer uma visão que vá além do departamento de TI e alcance o topo da organização. Proteger dados e sistemas é proteger a reputação, a confiança e o valor de mercado. Tal compromisso exige maturidade: educação contínua, protocolos claros e responsabilização efetiva.
Outro ponto igualmente importante é gerir a segurança da cadeia de valor. Nenhuma empresa é uma ilha digital. Fornecedores e parceiros, quer sejam eles empresas estabelecidas ou startups, integram um mesmo ecossistema. Um elo mais vulnerável pode comprometer todos os demais. O novo desafio é estender a cultura de segurança para além dos muros da organização e ampliar a segurança de toda a cadeia de valor.
Empresas resilientes são aquelas que transformam a segurança em parte do DNA corporativo (o tão falado “security by design”), e que seja algo tão natural quanto planejar uma estratégia de vendas ou revisar um balanço financeiro.
No fim, tecnologia é meio.
O verdadeiro diferencial está em preparar pessoas para pensar, agir e decidir de forma segura em um mundo onde o próximo ataque pode vir disfarçado de e-mail legítimo, mensagem de colega, contato por telefone e video chamadas ou uma atualização de sistemas.
A próxima fronteira da segurança não é técnica. É humana.
*Por Juliana Campos, Vice-Presidente de Operações da Worldpay para América Latina.













