Desde os anos 80, o modelo de negócio das indústrias globais girava em torno da localização das fábricas, que tinham preferência pelos grandes centros desenvolvidos pela facilidade de encontrar mão de obra qualificada e infraestrutura tecnológica. Os últimos anos foram decisivos para que as empresas abandonassem esse pensamento, muito em função da pandemia e da mudança do hábito de consumo do brasileiro, que passou a dar preferência para as marcas nacionais.
Segundo um estudo da consultoria Kantar, realizado em 2021, as empresas locais cresceram na preferência do consumidor há época e passaram a ser compradas com mais frequência. Esse grupo é representado por 65% dos entrevistados. Na categoria cesta de alimentos, o número sobe para 84% e 75% entre os itens de cuidados do lar.
Os números reforçam que a transferência da base de uma empresa para outro país tem sofrido um revés, pelo menos no gosto dos usuários, seja pelo alto custo de fretes, fornecedores inflexíveis ou problemas geopolíticos.
A dependência exclusiva de uma única nação para determinado insumo tende a diminuir nos próximos anos e o movimento de “reshoring”, ou seja, transição das cadeias globais para a cadeias locais deve aumentar. E a tecnologia será fundamental nessa transição. Isso porque a adoção de novas tecnologias, como Big Data, Machine Learning e das Inteligência Artificial (IA), permite otimizar os processos de manufatura e, com isso, criar fábricas mais enxutas e inteligentes.
Essas tecnologias fazem parte de uma transformação tecnológica chamada Indústria 4.0, que consiste em integrar sistemas, pessoas e dados em um único ecossistema conectado. Uma fábrica inteligente não só interpreta os insights, mas também analisa cenários e prevê tendências que podem impactar o negócio no longo prazo. De maneira sucinta, o conceito de smart factory busca automatizar todos os processos industriais em busca de maior eficiência e lucratividade para a empresa.
Smart factory e o reshoring
Uma fábrica inteligente permite, por meio de algoritmos de IA, dimensionar a produção com base na demanda local, garantindo assim a entrega de produtos na quantidade exata, evitando falta ou excesso de estoques. Parece pouco, mas esse é um enorme diferencial de negócio, principalmente porque o setor logístico da empresa passa a ter uma aliado para implementar uma estratégia de “same day delivery”, garantindo a satisfação dos clientes.
Outra vantagem de associar o conceito de smart factory com reshoring é a possibilidade de retenção da mão de obra local. Os sistemas inteligentes têm fluxos de trabalho otimizados e interfaces intuitivas, que permitem a execução de tarefas complexas de forma ágil e eficiente. Aqueles que investem em reshoring contribuem com as comunidades locais ao estimular a geração de empregos bem remunerados.
Em suma, comprar produtos produzidos localmente não é apenas uma tendência. É um movimento que ganha mais evidência à medida que os benefícios são percebidos, tanto para as organizações como para as comunidades. Aqueles que adotarem a produção mais próxima do seu cliente poderá obter resultados significativos já no curto prazo. E os desafios que parecem impossíveis de superar podem ser enfrentados com tecnologia avançada, projetada especificamente para apoiar as companhias no crescimento sustentável do seu negócios, onde quer que suas operações estejam localizadas.
*Por Waldir Bertolino, Country Manager da Infor.
