Nem mesmo a imagem de salários atrativos garante satisfação entre os profissionais de tecnologia no Brasil. O estudo global Talent Trends Tech 2025, realizado pela consultoria de recrutamento Michael Page, aponta que 53% desses trabalhadores estão insatisfeitos com sua remuneração. O percentual é superior à média mundial, de 36%, e também à média da América Latina, de 47%.
Motivos do descontentamento
Quando questionados sobre o último aumento, 23% dos entrevistados disseram nunca ter recebido reajuste, enquanto outros 23% tiveram aumento apenas nos últimos 12 meses. Já 16% afirmaram ter sido contemplados nos últimos seis meses, 13% há três meses e outros 13% há mais de dois anos. Apenas 11% tiveram reajuste em até dois anos.
Para Juliana França, gerente executiva da Michael Page, a questão vai além do aspecto financeiro. “A insatisfação salarial não se limita ao aspecto financeiro, mas está diretamente relacionada à percepção de reconhecimento e valorização profissional. Em um mercado altamente competitivo, onde a retenção de talentos é um desafio crescente, é fundamental que as organizações adotem políticas de remuneração compatíveis com a realidade do setor”, analisa.
Busca ativa por novas oportunidades
O levantamento mostra ainda que 54% dos profissionais de TI brasileiros estão em busca ativa de uma nova oportunidade de trabalho. O número é levemente inferior à média latino-americana (55%) e superior à global (50%).
Entre os principais motivos para procurar uma nova vaga estão: insatisfação com o salário atual (44%), desejo de promoção (37%), discordância em relação às decisões da liderança sênior (30%), interesse em explorar oportunidades internacionais (27%) e desmotivação com o cargo atual (26%).
“Os profissionais de tecnologia estão cada vez mais conscientes do seu valor no mercado. A procura ativa por emprego, nesse contexto, é uma resposta estratégica à estagnação percebida nas companhias onde atuam. As empresas precisam revisar suas políticas de remuneração, investir em planos de carreira consistentes, além de cultivar uma cultura de valorização genuína. Ignorar esse movimento é correr o risco de perder talentos para concorrentes mais atentos às demandas do novo perfil profissional”, destaca França.
Promoção ainda é exceção
O estudo também revela um dado que reforça o cenário de estagnação: 35% dos profissionais de tecnologia afirmam ter sido promovidos pela última vez há mais de dois anos, enquanto 30% nunca receberam uma promoção.
“A promoção de profissionais de tecnologia tem se tornado um ponto crítico nas estratégias de gestão de talentos. Essa demora ou a completa ausência de promoção pode ser atribuída a diversos fatores: estruturas organizacionais pouco flexíveis, ausência de critérios claros para evolução profissional, falta de planejamento estratégico de recursos humanos, ou mesmo uma cultura empresarial que negligencia o desenvolvimento interno. O impacto dessa estagnação é significativo: profissionais desmotivados tendem a reduzir seu engajamento, buscar oportunidades externas ou até migrar para mercados mais dinâmicos”, avalia França.
Ela reforça a necessidade de mudanças nas práticas corporativas. “É fundamental que as empresas revisem seus modelos de gestão de carreira, estabelecendo trilhas de crescimento transparentes, metas objetivas e avaliações periódicas que permitam identificar e recompensar o mérito. A promoção não deve ser vista apenas como um reconhecimento pontual, mas como parte de uma estratégia contínua de valorização e retenção de talentos”, conclui.
Escopo global da pesquisa
O relatório Talent Trends Tech 2025 foi realizado entre novembro e dezembro de 2024, em 36 países, com a participação de cerca de 5 mil profissionais e líderes de tecnologia. O levantamento busca mapear os principais desafios do setor e oferecer insights para a construção de estratégias corporativas ao longo de 2025.





