Neste ano, o Brasil sofreu mais de 315 bilhões de tentativas de ataque cibernético apenas no primeiro semestre — número que representa cerca de 84% de todo o tráfego malicioso registrado na América Latina no período, de acordo com um levantamento da Fortinet divulgado em agosto passado. Com adversários fazendo uso crescente de IA para conduzir campanhas de phishing, ataques DDoS e exploração de vulnerabilidades em ambientes híbridos e multicloud, líderes de segurança corporativa se veem diante de uma encruzilhada: manter o SOC (Security Operations Center) da forma como está ou apostar em novas tecnologias e formas de trabalho que respondam à nova realidade.
Grupos criminosos adotam táticas avançadas e combinam técnicas de Advanced Persistent Threat (APT) com ferramentas de IA para driblar as defesas tradicionais. Golpes que envolvem deepfakes ou phishing automatizado por IA tornam cada vez mais difícil distinguir o legítimo do malicioso. Ao mesmo tempo, a superfície de ataque das organizações se expandiu dramaticamente. Com ambientes de TI híbridos e multicloud, centenas de novos serviços e integrações são adicionados constantemente aos ecossistemas corporativos, abrindo brechas que muitas vezes são difíceis de monitorar.
O problema é que grande parte dos SOCs atuais foi concebida para um contexto em que as ameaças eram baseadas em assinatura e o volume de eventos era controlável. Hoje, porém, a multiplicação de fontes de telemetria, tais como endpoints, nuvens, APIs, identidades, dispositivos IoT e aplicações SaaS, faz com que o volume de logs cresça de forma exponencial.
Não se trata apenas de mais dados, mas de dados de naturezas distintas, com diferentes formatos, níveis de granularidade e relevância operacional. Ferramentas modernas de detecção e monitoramento, como EDRs, XDRs e soluções de observabilidade, coletam informações em tempo real e geram fluxos contínuos de telemetria que precisam ser correlacionados com ameaças conhecidas e comportamentos anômalos. Sem uma arquitetura de dados e automação adequadas, esse ecossistema torna-se difícil de orquestrar – e o SOC passa a lidar menos com ruído e mais com complexidade analítica. O desafio, portanto, deixou de ser filtrar falsos positivos e passou a ser transformar grandes volumes de logs em inteligência acionável com velocidade e contexto.
E, quando os adversários passam a empregar IA para criar malwares praticamente indetectáveis, um SOC calcado apenas em esforço humano não consegue escalar na mesma proporção do risco. O resultado é um descompasso perigoso entre a capacidade defensiva e a velocidade com que as ameaças modernas atuam, evidenciando que manter o status quo não é mais sustentável.
Uma das principais transformações em curso é a adoção do modelo de SOC as a Service, que redefine a forma como as empresas estruturam sua defesa cibernética. Diferente do modelo híbrido ou totalmente interno, o SOCaaS oferece monitoramento, detecção e resposta a incidentes 24×7 por meio de uma plataforma escalável e baseada em nuvem, administrada por especialistas em cibersegurança.
Esse formato elimina a necessidade de manter infraestrutura local pesada e reduz o tempo de implantação, ao mesmo tempo em que garante acesso contínuo a tecnologias e analistas altamente especializados.
Ao integrar telemetria proveniente de múltiplas camadas, o SOC as a Service consolida os eventos em um único datalake de análise, aplicando correlação e contextualização automatizadas com apoio de SOAR e machine learning. Assim, os alertas deixam de ser tratados de forma isolada e passam a compor narrativas completas de ataque, permitindo uma visão tática e antecipada das ameaças.
Essa automação nativa reduz drasticamente o tempo médio de detecção (MTTD) e o tempo médio de resposta (MTTR), pontos críticos para conter ataques modernos que podem se propagar em minutos.
Outro benefício do modelo é a atualização contínua da inteligência de ameaças. Fornecedores de SOCaaS normalmente operam com bases globais de threat intelligence, alimentadas por fontes de ciberinteligência regionais e internacionais.
Essa atualização constante amplia a visibilidade sobre novas campanhas maliciosas, técnicas de exploração e indicadores de comprometimento (IoCs), garantindo que o ambiente corporativo permaneça protegido mesmo diante de vetores inéditos. Ao mesmo tempo, as plataformas de SOCaaS modernas integram recursos de análise comportamental (UEBA) e aprendizado contínuo, permitindo identificar padrões anômalos e prevenir movimentos laterais antes que evoluam para incidentes graves.
Mais do que uma modernização tecnológica, a adoção de modelos de SOC as a Service representa um novo paradigma de defesa cibernética. O CISO que ainda vê o SOC apenas como um centro de monitoramento precisa agora encará-lo como um núcleo de inteligência e antecipação, sustentado por automação, correlação de dados e aprendizado de máquina.
*Por Felipe Guimarães, CISO da Solo Iron.





