Em 2026, os líderes entrarão em um período de decisões estruturais que vão além da adoção de novas tecnologias. A combinação entre riscos crescentes, pressões regulatórias e demandas operacionais fará com que a infraestrutura passe a ocupar um papel ainda mais estratégico nas empresas. Esse movimento traz implicações diretas para a forma como as lideranças planejam resiliência, energia, dados e virtualização, e antecipa tendências que vão orientar as prioridades ao longo do próximo ano.
IA: Realismo e repatriação
A era do entusiasmo excessivo ficou para trás e as empresas estão muito mais realistas sobre quais projetos de IA iniciarão ou continuarão. Os líderes continuam responsáveis por aumentar a lucratividade, expandir os negócios e mitigar riscos, e a IA oferece caminhos claros para avançar nessas frentes quando implementada corretamente. O excesso de opções fragmentadas dificultou a priorização nos últimos anos, e 2026 trará consolidação: apenas os projetos que reforçam esses três papéis e demonstram ROI seguirão adiante. Com modelos evoluindo rapidamente e custos mudando de forma imprevisível, a escala deixará de ser vantagem competitiva. O diferencial estará na capacidade de adaptação: trocar modelos, ajustar cargas entre nuvem, on-premise e borda e responder de forma ágil às mudanças técnicas. A vantagem não estará no tamanho da infraestrutura, mas na velocidade com que ela pode ser ajustada.
Outro elemento central será a repatriação acelerada de workloads. A nuvem continuará útil para testes, mas as empresas trarão cargas de trabalho de volta para ambientes on-premises com muito mais agilidade, e os data centers de borda terão papel importante nesse movimento. A soberania de dados impulsionará essa mudança, exigindo decisões mais intencionais sobre onde as informações ficam armazenadas, quem tem acesso e quem exerce controle. Esse tema influenciará onde os dados residem e onde o treinamento ocorre, e como as cadeias digitais serão estruturadas em 2026.
Energia VS data centers e o novo padrão
Embora os esforços para reduzir o consumo de energia tenham perdido espaço nas agendas políticas e empresariais nos últimos meses, o tema continua sendo prioridade para alguns. Observo três grandes tendências.
1. A disponibilidade de energia será um critério fundamental na construção de novos data centers, e a escassez de eletricidade atrasará as construções. A arquitetura e a localização dos data centers serão definidas principalmente pelo acesso à energia, e a colocalização da geração de energia e dos data centers evitará a dependência de uma rede elétrica subdimensionada.
2. As soluções de aquecimento urbano, que aproveitam a distribuição do calor residual dos data centers em outros locais, se tornarão mais comuns. Os fornecedores começarão a fazer algo com o calor produzido, seja desviando-o para residências ou estufas para a agricultura. No entanto, até que seja obrigatório por regulamentação, não é algo que será levado a sério, e os governos precisam considerar isso.
3. Outro padrão deve ser atualizado é a forma como a eficiência do armazenamento de dados é medida. Terabytes por Watt (TBe/W) mede a quantidade de dados armazenados por unidade de energia e deverá ser adotado como métrica padrão. Essa é uma medida relevante e clara, que reflete o uso de energia no mundo real e funciona como um parâmetro simples, preciso e independente de fornecedores. A adoção desse indicador pode reduzir o impacto do aumento dos preços da energia, aumentar a segurança energética e aliviar a pressão sobre a infraestrutura já sobrecarregada.
Preparação e inferência serão decisivas na IA
A maioria das empresas ainda enfrenta o desafio da preparação de dados. Preparar os dados para IA exige passar por uma série de etapas, como ingestão, curadoria, transformação, vetorização, indexação e disponibilização. Cada uma dessas fases pode levar dias ou semanas e atrasar o momento em que os resultados do projeto de IA podem ser avaliados. As empresas que se preocupam em usar IA com seus próprios dados vão priorizar a otimização e automatização de todo o fluxo de dados para IA, tanto para uma avaliação inicial mais rápida dos resultados, quanto para a ingestão contínua de dados recém-criados e novas iterações.
O próximo ano vai exigir decisões maduras sobre como as empresas sustentam seus ambientes, e esta próxima fase não será marcada por volume de iniciativas, mas pela qualidade das escolhas. Priorizar a base certa permitirá que sua empresa continue crescendo com segurança, responsabilidade e previsibilidade.
*Por Paulo de Godoy, country manager da Pure Storage.





