A história da tecnologia é marcada por ciclos de inovação que, a cada etapa, redefinem profundamente a dinâmica social e econômica. Desde os primeiros computadores pessoais até a revolução da internet, passando pela era da mobilidade com os smartphones e chegando ao cloud computing e à inteligência artificial, cada avanço ampliou a dependência da tecnologia em atividades críticas e cotidianas. No cerne dessa evolução está o controle sobre a tecnologia: não apenas a capacidade de utilizá-la, mas a autonomia para desenvolvê-la e geri-la.
Entretanto, esse controle está ameaçado por uma crise aguda de escassez de profissionais qualificados em Tecnologia da Informação (TI). Estudos recentes, como o da Brasscom, indicam que o Brasil precisará de 797 mil profissionais de TI até 2025, enquanto um levantamento do Google projeta um déficit de 530 mil especialistas no mesmo período. No setor público, a situação é ainda mais crítica, com o risco de colapso devido à dificuldade de atrair e reter talentos qualificados.
A gravidade da situação é amplificada pela complexidade das infraestruturas tecnológicas, especialmente no setor governamental. Essas infraestruturas frequentemente consistem em múltiplas camadas de tecnologia, cada uma desenvolvida por fabricantes diferentes, com contratos de suporte variados e interfaces de administração próprias. Essa fragmentação exige equipes numerosas e altamente especializadas para garantir a operação, a manutenção e a segurança.
No campo da segurança cibernética, o problema é ainda mais alarmante. O cenário de ameaças evolui a uma velocidade sem precedentes, com novas vulnerabilidades e métodos de ataque emergindo diariamente. Para enfrentá-las, novas ferramentas e soluções são introduzidas constantemente, exigindo atualizações contínuas e maior qualificação das equipes de TI. A administração de dezenas de ferramentas de segurança — cada uma com interfaces próprias e requisitos técnicos específicos — aumenta significativamente a sobrecarga das equipes. A insuficiência de profissionais capacitados e em número adequado cria um ciclo de negligências inevitáveis, abrindo brechas críticas para ataques cibernéticos.
Uma abordagem promissora para enfrentar esse desafio é a consolidação de camadas tecnológicas. No campo da infraestrutura computacional, a adoção da hiperconvergência (HCI) tem mostrado resultados expressivos, unificando computação, armazenamento e redes em uma única plataforma. Na área de segurança cibernética, observa-se uma tendência de fusões e aquisições entre fabricantes, resultando no desenvolvimento de plataformas de segurança unificadas.
Para o setor público, que tem uma notável maior dificuldade em atrair e reter talentos na área de tecnologia, uma alternativa complementar é a contratação de serviços gerenciados. Essa estratégia permite terceirizar a operação e manutenção de sistemas complexos, aliviando a pressão sobre as equipes internas e garantindo rápido acesso a expertise especializada e atualizada. Além de aumentar a eficiência operacional, os serviços gerenciados podem melhorar a segurança e a continuidade das operações, fatores críticos em um ambiente de ameaças em constante evolução.
*Por Rafael Oneda, Diretor de Tecnologia da Approach Tecnologia.